segunda-feira, 25 de julho de 2011

Velocidade deExecução das Repetições

Qual é a velocidade ideal das repetições??
O que tem a ver com o seu objetivo?

No capítulo 5 do livro Bases Cinetíficas da Hipertrofia, o Doutor Paulo Gentil explica a influência:
Pra começar, a escolha da velocidade depende de 4 fatores: Objetivo, Tipo de estímulo, amplitude de movimento e treinamento isocinéticos e convencionais. 

Antes das explicações, vamos entender o que é contração concêntrica e excêntrica: concêntrica é quando você vence a risistência e excêntrica é quando você deixa a resistência te vencer. Como exemplo a rosca bíceps, quando você faz a força pra subir é concêntrica, e para descer é excêntrica. Aqui vamos usar números para representar a velocidade e o tipo de concentração: 4020 = 4 segundos para descer (excêntrica), 0 segundos na fase de transição de excêntrica para concêntrica, 2 segundos para subir (concêntrica) e 0 segundos na transição de concêntrica para excêntrica.  


Muitas vezes, as pessoas pensam em intensidade apenas pela carga, quando na verdade o simples fato de mudar a velocidade de execução torna o exercício mais difícil. 

A velocidade tem reações metabólicas diferentes, de modo que quando a velocidade é maior, maior é o gasto energético e acúmulo de metabólicos, o que favorece a hipertrofia e o emagrecimento. 

 
Alguns estudos são citados como o de LANCHANCE & HORTOBAGYI (1994)  que compararam os efeitos agudos de velocidades 2020 e 4020 ( ênfase na fase excêntrica). Os resultados demosntraram que a velocidade mais rápida houve maior gasto energético e maior realização de trabalho.

Com relação a ênfase na fase excêntrica, existe um maior rompimento das fibras, utilização de cargas mais altas e mecanotransdução, o que também são fatores importante para a hipertrofia.
Mas, é preciso a orientação de um profissional, pois as repetições tem de ser ajustadas para cada tipo de estímulo, se não, o efeito pode ser maléfico como perda de força por até 40 dias.


Referências: 
Gentil.P. Bases Cinetíficas do Treinamento de Hipertrofia, 2008. 

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Musculação: a importância do acompanhamento adequado

Musculação: a importância do acompanhamento adequado
Paulo Gentil



http://www.gease.pro.br/principal.php





Tornou-se indiscutível que a prática de atividades físicas é importante para manutenção da saúde. Nesse contexto, a musculação vem ganhando um espaço crescente, por proporcionar resultados estéticos, melhorar o desempenho desportivo e ajudar na prevenção, recuperação e reabilitação das mais diversas condições patológicas.

Cientes desses benefícios, muitas pessoas procuram locais especializados para prática de musculação. No momento de escolher onde treinar, diversos fatores são levados em consideração, como a proximidade de casa/trabalho, estrutura física, preço, tipo de público que a freqüenta... No entanto, o fator principal muitas vezes é negligenciado: a qualidade do acompanhamento profissional.

No Brasil, é obrigatório que as academias tenham um professor de Educação Física, devidamente registrado no CREF (Conselho Regional de Educação Física) para supervisionar os seus alunos. Essa prática não é novidade na área da saúde. Para exercer suas profissões, médicos, enfermeiros, nutricionistas e fisioterapeutas, por exemplo,devem possuir formação na área específica e registro no conselho respectivo. No caso da Educação física, isso é uma forma de proteger o praticante, garantindo a sua segurança e os seus resultados. No entanto, uma tendência de mercado vem preocupando os profissionais mais atentos e comprometidos: a criação de academias na qual a supervisão é negligenciada. Como a folha de pagamento é uma das principais fontes de despesa das academias, muitas empresas estão abrindo mão de bons profissionais para atender seus alunos, ou até mesmo abrindo mão de ter um profissional em sala, com objetivo de reduzir custos. Essas academias normalmente possuem poucos profissionais em sala, os quais servem mais para dar satisfações legais do que propriamente para atender os praticantes.

Apesar desses locais normalmente não serem procurados por pessoas com problemas de saúde (pois elas normalmente têm consciência dos riscos de um acompanhamento inadequado), muitas pessoas com objetivos estéticos e pensando em pagar mensalidades mais baixas as têm procurado. Mas será que a falta de acompanhamento não prejudicaria os resultados?

O primeiro estudo sobre o tema foi publicado por Mazzetii et al. (2000). Os autores compararam as mudanças na força máxima e na potência muscular após 12 semanas de musculação em homens moderadamente treinados, os quais realizavam os treinos sob supervisão individual ou sem supervisão direta. Os participantes tinham entre 1 e 2 anos de experiência em musculação, mas nunca haviam treinado sob supervisão direta. Os dois grupos realizaram treinamentos idênticos, com as mesmas margens de repetições, séries, exercícios, etc. A diferença foi que o grupo supervisionado treinou com o acompanhamento direto de um especialista em todas as sessões, enquanto o grupo não-supervisionado teve acompanhamento apenas em uma sessão de familiarização, na qual o treino foi demonstrado e explicado, em seguida os treinos ocorreram sem supervisão, havendo apenas auxilio de um colega de treino nos exercícios como supino e agachamento, por questões de segurança. Ao final do estudo, os ganhos de força e potência muscular, bem como os ganhos de massa magra e a perda de gordura foram maiores para o grupo supervisionado.

Posteriormente, Coutts et al. (2004) examinaram o efeito da supervisão durante 12 semanas de musculação nos resultados obtidos por jovens jogadores de rúgbi. Novamente, os grupos realizaram exatamente o mesmo treino, com diferença apenas na supervisão. No treino não supervisionado, havia profissionais na sala para dar informações, quando solicitados, mas o acompanhamento direto dos 21 atletas foi realizado por um gerente da equipe, sem formação na área, cujo papel era apenas controlar a freqüência e outros aspectos administrativos. O outro grupo treinou sob supervisão direta de especialistas, com a relação de 1 professor para cada 7 alunos. De acordo com os resultados, os ganhos de força foram maiores para o grupo que treinou sob supervisão.

Com esses dados, fica claro que, mesmo em pessoas treinadas, a supervisão tem um papel essencial nos resultados. Aqui deve-se lembrar que a simples vivência em uma atividade não transforma uma pessoa em um especialista. É interessante ver alguns praticantes de musculação acreditarem que são auto-suficientes devido à prática e que não precisam de orientação profissional em seus treinos, quando mesmo atletas profissionais, com vasta experiência em suas atividades, recorrem ao acompanhamento de um treinador formado. Vamos pensar bem, se o acompanhamento não fizesse diferença, será que os atletas olímpicos, ou equipes profissionais de futebol, basquete, vôlei, etc. gastariam dinheiro contratando técnicos e preparadores físicos?

O professor de Educação Física passa anos estudando as diversas ciências envolvidas na prática de atividades físicas, como fisiologia, bioquímica, biomecânica, cinesiologia, anatomia, sem esquecer de outras não menos importantes como as relacionadas à aprendizagem motora, psicologia, etc. E esse conhecimento acadêmico é essencial para se tirar o máximo de proveito de um treino. Por exemplo, um bom profissional saberá controlar a velocidade, intervalos, aproveitar melhor os ângulos de movimento, ajustar cargas, etc. variáveis pouco compreendidas e muito importantes para os resultados (Gentil, 2011). Nos estudos anteriores, por exemplo, os participantes tinham vários meses, ou até anos, de experiência na prática de musculação, e os resultados só vieram com um acompanhamento adequado, mesmo que os treinos fossem exatamente os mesmos para os grupos que treinaram com e sem supervisão.

Nesse ponto, muita gente pode levantar a hipótese de que a supervisão seja mais importante para atletas e pessoas treinadas, pois eles precisariam de estímulos mais eficientes para se adaptarem, em comparação com um aluno comum de academia. A resposta a isso vem de um estudo conduzido pelo nosso grupo, no qual foram comparados os efeitos da supervisão nos ganhos de força de 124 homens jovens, não-treinados, após 11 semanas de musculação (Gentil & Bottaro, 2010). Os participantes foram divididos em turmas de 20 a 25 alunos, metade com supervisão alta e metade com supervisão baixa. Nas turmas com supervisão alta, havia 4 a 6 professores por turma, o que mantinha uma supervisão média de 5 alunos por professor, já nas turmas com supervisão baixa, apenas um professor cuidava dos 20 a 25 alunos. Os grupos realizaram exatamente os mesmos treinos, com os mesmos exercícios, mesmas margens de repetições e mesmos intervalos entre as séries. Os professores não tinham conhecimento do objetivo do estudo, e sua instrução, independente de estar com supervisão alta ou baixa, foi para manter os alunos motivados e orientá-los com relação à execução correta e ajuste de intensidade. Ao final do estudo, o grupo que treinou sob supervisão alta obteve um aumento de 15,9% na força do supino, o que foi maior que os 10,22% obtidos pelo grupo que treinou sob supervisão baixa. As maiores diferenças, entretanto, ocorreram para o torque dos membros inferiores, no qual o grupo sob supervisão alta ganhou 11,8%, enquanto o aumento de 1,4% do grupo que treinou sob supervisão baixa não foi significativo.

A explicação dos resultados encontrados dos estudos anteriores está na maior aderência ao treino, maior progressão da carga e utilização de intensidades mais adequadas. No entanto, é importante notar que nesses estudos os treinos foram os mesmos para os dois grupos, algo que não será verdade para uma pessoa treinando sem supervisão. Sem supervisão, o praticante monta o próprio treino ou o copia de uma outra pessoa, o que aumentará ainda mais os riscos à saúde e diminuirá a possibilidade de se obter bons resultados. Imagine quão diferentes seriam os resultados se fossem comparados treinos elaborados por profissionais de Educação Física e treinos montados por pessoas não formadas?

Desse modo, fica claro que, independente do nível de treinamento, a supervisão por um profissional especializado, bem como uma relação adequada professor:aluno são essenciais para garantir a segurança e os resultados. Na hora de escolher uma academia, não basta observar se ela está na moda, é barata ou bonita. Lembre-se que uma academia é movida essencialmente pela qualidade dos profissionais que nela trabalham. O acompanhamento adequado pode representar a diferença entre ter ou não ter resultados. Portanto, quando for procurar um local para treinar, mais do que qualquer outra coisa, observe principalmente se você terá acompanhamento direto de bons profissionais.

Referências bibliográficas

Coutts AJ, Murphy AJ & Dascombe BJ. (2004). Effect of direct supervision of a strength coach on measures of muscular strength and power in young rugby league players. J Strength Cond Res 18, 316-323.
Gentil P. (2011). Bases Científicas do Treinamento de Hipertrofia. Editora Sprint, Rio de Janeiro.
Gentil P & Bottaro M. (2010). Influence of supervision ratio on muscle adaptations to resistance training in nontrained subjects. J Strength Cond Res 24, 639-643.
Mazzetti SA, Kraemer WJ, Volek JS, Duncan ND, Ratamess NA, Gomez AL, Newton RU, Hakkinen K & Fleck SJ. (2000). The influence of direct supervision of resistance training on strength performance. Med Sci Sports Exerc 32, 1175-1184.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Dormir também é treino – parte 2 – Como melhorar o seu sono

 

Autores: Felipe Nassau e Paulo Mendes

http://www.trustsports.com.br

 

 

 

 

Biomecânica aplicada ao sono

            Durante as fases profundas do sono, ocorre um menor trabalho dos músculos atuantes na ventilação, como o diafragma e os intercostais. Sendo assim, a quantidade de ar inspirado e expirado é reduzida, aumentando concentrações de CO2 no sangue e conseqüentemente tornando o sangue mais ácido, o que reduz a afinidade do oxigênio pelas hemácias, tornando-o mais disponível para as células do organismo. Porém, se essa acidose for muito elevada, o corpo necessita aumentar a intensidade da ventilação para “expulsar” mais CO2, fazendo com que o corpo saia de um ciclo mais profundo de sono para um estágio mais inicial de sono novamente. Assim, acreditamos que o sono profundo é interrompido por quadro semelhante à apnéia, o que pode ser atenuado pela posição de dormir.
            Mantendo as vias aéreas menos obstruídas e melhorando a capacidade do tórax se expandir é possível acreditar na permanência por mais tempo em fases de sono profundo, obtendo mais benefícios do sono reparador. Isso pode ser uma solução para quem já dorme bem e também para quem tem menos tempo para dormir. Otimizando o sono, pode ser necessário menos tempo dormindo para que se cumpra a sua função.
            Ao utilizar colchões muito macios, ocorre a tendência de “afundar” no colchão, fazendo com que os ombros comprimam a caixa torácica, sendo que o mesmo ocorre ao deitar de lado. O uso do travesseiro alto aproxima o queixo do tórax, aumentando a obstrução da glote, dificultando também a respiração.
            Ao deitar em superfície mais rígida, a coluna vertebral obtém um apoio mais firme, fazendo com que suas curvaturas, sobrecarregadas durante o dia, alinhem-se novamente. Além disso, os ombros e as escápulas expõem mais o tórax, facilitando a expansão das costelas, logo, a respiração. Alem disso, o uso de pequenos rolos na região cervical afasta o queixo do tórax, deixando a glote mais aberta e facilitando a entrada de ar.
            Essa estratégia para dormir, apesar de não ser a mais comum na nossa sociedade, é amplamente utilizada pelos orientais antigos que dormiam em decúbito dorsal (barriga para cima), sem travesseiros, em tatames bem mais rígidos que os nossos colchões atuais, mundialmente conhecidos pelo seu estilo de vida longevo e menos estressado. Além disso, na natureza, pode ser observado que todos os mamíferos terrestres tendem a dormir com sua maior área corporal apoiada na superfície, sendo mais um possível motivo para condenar o sono em decúbito lateral.

Estratrégias alternativas para melhorar a qualidade do sono

            Práticas de relaxamento e alongamentos, por reduzirem a pressão arterial, podem ser altamente indicadas para facilitar o início do sono e a obtenção de um sono mais tranqüilo. Listamos como exemplo de técnicas de relaxamento:
- meditação,
- alongamentos,
- músicas suaves,
- leitura,
- banho natural e/ou frio próximo ao horário de dormir.
                        
Estratrégias Nutricionais
            Por meio da alimentação é possível otimizar tanto a secreção de testosterona quanto de hGH durante o sono. Diversas circunstâncias elevam os níveis séricos de tais hormônios. Quanto ao hormônio do crescimento e testosterona, é sabido que as seguintes situações executam essa liberação sinergicamente: hipoglicemia, hipotensão, hiperaminoacidemia, sono profundo, acidose, alguns minerais e aminoácidos específicos (comprovados cientificamente), além das características físicas do ambiente. Com base nessas informações, existe a viabilidade de prescrever determinados alimentos, minerais e até fitoterápicos que vão, consideravelmente, elevar a secreção noturna para tais hormônios.

Treinamento

            Sabe-se que o treinamento pode melhorar em muito a qualidade de sono e potencializar as respostas hormonais. Porém, indivíduos em overtraining tendem a ter maior dificuldade para dormir e ter um sono mais leve, logo, é fundamental controlar bem os parâmetros de treino. Uma atividade que dificilmente comprometerá os resultados do treinamento e pode favorecer em muito uma boa noite de sono é a caminhada leve por alguns minutos antes de dormir. Isso se deve ao aumento da captação da glicose minutos após o exercício leve, favorecendo uma menor glicemia e à vasodilatação promovida, reduzindo a pressão arterial antes do sono, promovendo um estado de maior relaxamento.


Referências

  • U.S. DEPARTMENT OF HEALTH AND HUMAN SERVICES. The Seventh Report of the Joint National Committee on Prevention, Detection, Evaluation, and Treatment of High Blood PressureNIH Publication No. 04-5230 .August 2004
  • ALVES, P; POIAN, A. Hormônios e Metabolismo: integração e correlações clínicas. 1ª ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2002.
  • GLEESON, M.; GREENHAFF, P.; MAUGHAN, R. Bioquímica do Exercício e do Treinamento. 1ª ed. São Paulo: Editora Manole, 2000.
  • GUYTON, A.; HALL, J.: Tratado de fisiologia médica. 11ªed. São Paulo: Saunders Elsevier, 2006.
  • HOWLEY, E.; POWERS, S. Fisiologia do Exercício: teoria e aplicação ao condicionamento e ao desempenho. 5ª Ed. Barueri: Manole, 2005.
  • JUNIOR, T.; PEREIRA, B. Metabolismo Celular e Exercício Físico: Aspectos Bioquímicos e Nutricionais. 2ª ed. São Paulo: Phorte, 2007.
  • Rehman JU, Brismar K, Holmbäck U, Akerstedt T, Axelsson J. Sleeping during the day: effects on the 24-h patterns of IGF-binding protein 1, insulin, glucose, cortisol, and growth hormone. Eur J Endocrinol. 2010 Sep;163(3):383-90. Epub 2010 Jun 29.
  • Karimi M, Koranyi J, Franco C, Peker Y, Eder DN, Angelhed JE, Lönn L, Grote L, Bengtsson BA, Svensson J, Hedner J, Johannsson G.J Clin Sleep Med. Increased neck soft tissue mass and worsening of obstructive sleep apnea after growth hormone treatment in men with abdominal obesity. 2010 Jun 15;6(3):256-63.
  • Copinschi G, Nedeltcheva A, Leproult R, Morselli LL, Spiegel K, Martino E, Legros JJ, Weiss RE, Mockel J, Van Cauter E. Sleep disturbances, daytime sleepiness, and quality of life in adults with growth hormone deficiency. J Clin Endocrinol Metab. 2010 May;95(5):2195-202. Epub 2010 Mar 23.
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  • Santtila M, Kyröläinen H, Häkkinen K. Serum hormones in soldiers after basic training: effect of added strength or endurance regimens. Aviat Space Environ Med. 2009 Jul;80(7):615-20.
  • Tyyskä J, Kokko J, Salonen M, Koivu M, Kyröläinen H.Association with physical fitness, serum hormones and sleep during a 15-day military field training. J Sci Med Sport. 2010 May;13(3):356-9. Epub 2009 Jul 1.
  • CHRISTINA HALFORD, LISA EKSELIUS, INGRID ANDERZEN, BENGT ARNETZ;
  • KURT SVÄRDSUDD3 Self-rated health, life-style, and psychoendocrine measures of stress in healthy adult women. Upsala Journal of Medical Sciences. 2010; 115: 266–274
  • BRADLEY C. NINDL, WILLIAM J. KRAEMER,1–3,5 JAMES O. MARX,2,3 PAUL J. ARCIERO,KEI DOHI, MARK D. KELLOGG, AND GREGORY A. LOOMIS Overnight responses of the circulating IGF-I system after acute, heavy-resistance exercise. 90: 1319–1326, 2001. J Appl Physiol
  • Mary Fran Sowers,; Huiyong Zheng, Howard M. Kravitz, Karen Matthews,  Joyce T. Bromberger,  Ellen B. Gold,; Jane Owens,  Flavia Consens, Martica Hall. Sex Steroid Hormone Profiles are Related to Sleep Measures from Polysomnography and the Pittsburgh Sleep Quality Index.PhD  SLEEP, Vol. 31, No. 10, 2008

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Dormir faz parte do treino!

 

Dormir também é treino – parte 1 – Ondas cerebrais e hormônios

 Autores: Felipe Nassau e Paulo Mendes

http://www.trustsports.com.br

 

Introdução

            O sono é definido como um estado de inconsciência do qual uma pessoa pode ser despertada por estímulo sensorial ou outro estímulo, sendo fundamental para o bom rendimento profissional, intelectual, e, é claro, esportivo. O senso comum postula que uma boa noite de sono contribui para a longevidade e qualidade de vida. Porém, durante a “correria” cotidiana, muitos negligenciam a importância da quantidade e qualidade do sono. Além disso, hábitos inadequados dificultam ainda mais uma boa noite de descanso.
            Muitos são os que se dedicam bastante em seu treino e dieta, mantendo um bom planejamento para ambos, com execução e periodicidade adequadas. Ainda assim, com todo esse quadro favorável ao desenvolvimento físico, o simples hábito de dormir inapropriadamente pode influenciar de forma negativa o bem-estar e resultados almejados.

Sono diurno, vespertino, noturno e reparador

            Há algum tempo, sabe-se que o sono noturno é fundamental para cumprir função reparadora no organismo. Sua principal função é restaurar o equilíbrio natural entre os centros neuronais. Nosso sono é composto por fases e ciclos, sendo 5 estágios, repercutidos de 4 a 6 vezes durante a noite. O que poucos sabem é que a restauração das energias vitais, renovação dos tecidos musculares lisos e produção de hormônios reparadores ocorrem por alguns minutos, principalmente durante o sono mais profundo, chamado sono N.R.E.M (Non Rapid Eye Moviment – Sem Movimento Rápido dos Olhos). Então, a qualidade do sono é indicada pelo tempo passado nas fases mais profundas, e não pela quantidade total de horas dormidas. Nessas fases, além disso, as ondas cerebrais são reproduzidas em outras freqüências, que explica o profundo relaxamento.
            Maiores liberações de melatonina, hGH (hormônio do crescimento humano) e testosterona têm relações diretas com o sono profundo. Entretanto, a aplicação exógena do hGH – amplamente prescrito por profissionais adeptos da suposta “medicina ortomolecular” – está relacionada com hipertrofia apenas dos tecidos conjuntivos, podendo provocar pinçamento de nervos e dilatar tecidos internos no pescoço, desencadeando possíveis patologias relacionadas à apnéia do sono, prejudicando-o em suas respostas hormonais naturais. Sendo assim, com o passar do tempo, haverá a possibilidade em desenvolver patologias ligamentares, neurais e respiratórias.
Outro hormônio que pode ser afetado negativamente por distúrbios e falta do sono noturno é o IGF-1 (Insuline Growth Factor – Fator de Crescimento do Tipo Insulina 1), antigamente conhecido como Somatomedina C, que possui potentes características anabólicas e reparadoras.           
A produção/liberação de GH ocorre via eixo hipotálamo => hipófise => fígado => tecidos. De acordo com a resposta hormonal exigida, o hipotálamo secreta o Hormônio Liberador do Hormônio do Crescimento (GHRH), que estimulará a secreção de GH pela adeno-hipósife (hipófise anterior) que, por sua vez, atingirá o fígado fazendo com que seja liberado IGF-1 e, assim, induzindo as expressões e reparações teciduais. Como demonstrado, o eixo do hormônio do crescimento tem efeito endócrino, autócrino e parácrino.  
Nosso encéfalo emite diferentes ondas cerebrais durante o período de 1 dia (24 horas completas). Essas ondas elétricas são: Alfa (α), Beta (β), Delta (Δ) e Teta (Φ). Nosso cérebro trabalha em ondas alfa em dois períodos do dia: o despertar e o adormecer. É o período em que estamos com a freqüência cardíaca mais baixa, pressão arterial reduzida e atividades neurais (principalmente concentração e movimentos finos) mais passivas. À medida que vamos despertando, entramos em ondas Beta; quando há aumento da taxa metabólica basal, acompanhado da elevação da temperatura corporal, freqüência cardíaca e pressão arterial; ampliando assim nossas atividades neurais até o estado conhecido como “vigília”; momento em que estamos mais atentos, ativos e acionados. Durante o dia, passamos sempre em onda Beta, momento em que o cotidiano exige mais atenção e dedicação. Praticamos atividade física, exercemos atividades intelectuais etc. Nota-se, então, que nosso encéfalo “trabalha” muito durante o dia. Quando chega o período noturno, nossa mente já está cansada e começa a reduzir a quantidade de ondas emitidas. Essas ondas também são responsáveis por controlar os impulsos nervosos por todo nosso organismo; principalmente pelas vias eferentes. Logo, sai das ondas Beta e retorna às ondas Alfa. À medida que entramos em ondas alfa, começa a liberação de Melatonina – hormônio segregado pela glândula pineal – de forma pouco significativa. A quantidade produzida deste hormônio é diretamente proporcional à quantidade de hGH produzida durante o sono. Portanto, para aperfeiçoar a liberação desse hormônio, devemos adaptar o meio em que dormimos para o mais natural e agradável possível: pouca ou quase nenhuma luz, ausência de sons e evitar lugares muito quentes. Lugares com muita iluminescência, barulho e calor, inibem a liberação de Melatonina e, conseqüentemente, diminuem a produção do hGH. 
Quando pegamos no sono e realmente começamos a dormir, nosso encéfalo diminui a quantidade de impulsos elétricos emitidos. O primeiro estágio do sono ainda é atuante em baixa voltagem e fusos, um pouco menos ativos que as ondas alfa, um sono mais superficial; no segundo e terceiro estágio, essas ondas cerebrais começam a ser emitida em ondas Teta, onde já estamos em sono profundo. Em seguida, entramos na quarta fase do sono, onde se reduz ainda mais as ondas e entramos em Delta, onde a culminância das ondas está bem afastada. A segunda, terceira e quarta fases do sono (Delta e Teta) remetem ao sono NREM (não-REM), sendo os estágios 2 e 4 o sono mais profundo. E é durante essas fases que ocorrem a maior liberação de hGH; responsável em auxiliar todos os mecanismos reparadores teciduais (p.e. microlesões induzidas pelo treinamento; renovação dos órgãos) e, ainda, efeito lipotrópico otimizado. Este efeito lipotrópico é caracterizado por maior mobilização dos ácidos graxos livres para sua utilização para o fornecimento de energia. Essa oxidação ocorre pelo efeito lipolítico (utilização da gordura) do hGH. Deve ser ratificado também que é durante o primeiro ciclo de sono profundo (primeiras duas horas do sono) que ocorre o ápice de liberação do hormônio do crescimento. Após toda essa alternância de ondas cerebrais, nosso cérebro, curiosamente, retorna às ondas Betas e entra no sono REM, chamado sono paradoxal, onda há flacidez e paralisia funcional dos músculos esqueléticos. É nesse período que acontece a maior quantidade de sonhos.
O ciclo do sono corresponde a um período de 90 a 120 minutos, onde o indivíduo se encontra em estágios de sono não-REM e em seguida passa para o sono REM. Um segundo ciclo se inicia quando a pessoa regressa ao sono não-REM e, assim, as alternância de estágios do sono vão ocorrendo de maneira a totalizar 4 a 6 ciclos por noite. Durante a primeira metade da noite os estágios 3 e 4 do sono não-REM são predominantes; já na segunda metade, o sono REM passa a predominar sobre o sono não-REM.
Releva-se também o fato de muitas pessoas cometerem o erro absurdo de achar que dormindo à tarde vão produzir GH. Mito. Com a prática da “sesta” (dormir após aproximadamente 6 horas do despertar), ou a “soneca da tarde”, não haverá liberação nenhuma de GH; apenas uma reorganização de determinados pólos encefálicos específicos, que vão auxiliar na fixação de informações na memória. Sendo assim, o único ponto positivo de praticar a “dormidinha depois do almoço”. Infelizmente essa prática não é plausível para a maioria dos indivíduos.
            Um trabalho recente comparou o sono noturno e diurno em estado alimentado e de jejum com parâmetros hormonais relacionados ao diabetes tipo 2, além da expressão da proteína IGPBF-1, diretamente relacionada com doenças inflamatórias. Os resultados foram bastante conclusivos em afirmar que tanto o sono diurno quanto o estado de jejum aumentam sua expressão, elevando o risco de desenvolver o diabetes tipo 2. Além disso, a insônia está diretamente relacionada com a hipertensão arterial.
                             

Testosterona

            Sabe-se que o treinamento físico é capaz de induzir maiores concentrações de testosterona no organismo, a médio e longo prazo. É um hormônio esteróide sexual produzido em maior escala em homens, mas também nas mulheres. Possui ações favoráveis ao sistema imune, libido, límbico, tecidual, muscular (p.e. hipertrofia do músculo esquelético), e atua também no estado de vigília. Em contrapartida, excessos de treinamento, situações de overtraining e má alimentação podem reduzir drasticamente sua síntese e, em contrapartida, aumentar a secreção de outro hormônio esteróide: o Cortisol. Este neurotransmissor compete diretamente com os receptores de membrana da testosterona. Sua produção está relacionada principalmente ao estresse físico e mental.
            Estudos recentes demonstram que indivíduos com distúrbios de sono podem apresentar altas concentrações do hormônio cortisol em relação à testosterona, o que é prejudicial aos resultados e à saúde, podendo favorecer o overtrainig, lesões e irritabilidade. Tanto a continuidade do sono quanto a sua duração se mostram fundamentais à produção de testosterona, sendo que alguns estudos mostram que existe uma relação direta entre o sono e taxas de testosterona total e testosterona biodisponível (forma mais ativa). Essa mesma análise científica evidenciou que indivíduos com maior duração e qualidade de sono obtiveram maiores concentrações desse hormônio, o que também ocorreu com hormônios intermediários da testosterona, como o DHEA, que vem sido amplamente prescrito por médicos – estudiosos ou não – adeptos da linha ortomolecular; ou seja, é possível obter os mesmos benefícios hormonais, apenas cuidando da qualidade do sono, que também pode ser influenciado por exercícios físicos, dieta e nível de estresse.
            Outro dado interessante colocado nesse artigo é que pessoas com maior freqüência de atividade sexual também obtiveram taxas de testosterona total, biodisponível e de DHEA mais elevados. Assim, além do sono, temos mais uma prática natural e fisiológica que pode trazer benefícios à saúde. Além disso, sabe-se que após o orgasmo ocorre vasodilatação e queda da pressão arterial, que são situações favoráveis à qualidade do sono.
            Estudos mostram que o treinamento de força (musculação) é mais efetivo em promover melhoras desse hormônio, porém, excesso de treinamento ou a falta de períodos regenerativos podem comprometer o aumento dessas taxas hormonais.

Referências

  • U.S. DEPARTMENT OF HEALTH AND HUMAN SERVICES. The Seventh Report of the Joint National Committee on Prevention, Detection, Evaluation, and Treatment of High Blood PressureNIH Publication No. 04-5230 .August 2004
  • ALVES, P; POIAN, A. Hormônios e Metabolismo: integração e correlações clínicas. 1ª ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2002.
  • GLEESON, M.; GREENHAFF, P.; MAUGHAN, R. Bioquímica do Exercício e do Treinamento. 1ª ed. São Paulo: Editora Manole, 2000.
  • GUYTON, A.; HALL, J.: Tratado de fisiologia médica. 11ªed. São Paulo: Saunders Elsevier, 2006.
  • HOWLEY, E.; POWERS, S. Fisiologia do Exercício: teoria e aplicação ao condicionamento e ao desempenho. 5ª Ed. Barueri: Manole, 2005.
  • JUNIOR, T.; PEREIRA, B. Metabolismo Celular e Exercício Físico: Aspectos Bioquímicos e Nutricionais. 2ª ed. São Paulo: Phorte, 2007.
  • Rehman JU, Brismar K, Holmbäck U, Akerstedt T, Axelsson J. Sleeping during the day: effects on the 24-h patterns of IGF-binding protein 1, insulin, glucose, cortisol, and growth hormone. Eur J Endocrinol. 2010 Sep;163(3):383-90. Epub 2010 Jun 29.
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